Há muitos séculos atrás, aquando da criação dos primeiros jardins, o jardim era entendido como refúgio a uma natureza selvagem e ameaçadora. No século XX, procura-se cada vez mais trazer a natureza para o interior do jardim, convertendo-o num refúgio aos ambientes hostis produzidos pelo homem. Assim, de alguma forma, a natureza não é já o exterior do jardim, mas o seu interior. Na verdade, o jardim do século XX é um lugar de paradoxos e contradições que talvez estejamos ainda longe de compreender.
É certo, no entanto, que a emergência de uma nova consciência ecológica lhe imprime uma das suas marcas distintivas mais profundas relativamente aos jardins de épocas anteriores. Não se trata apenas de uma valorização progressiva do papel da vegetação espontânea, mas de todo um conjunto de princípios ecológicos subjacentes à sua aplicação. Sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, multiplicam-se em torno do jardim as pesquisas e experiências no âmbito da ecologia. Nalguns casos, o jardim é mesmo entendido como modelo ou protótipo para o desenvolvimento de sistemas ecológicos extensíveis a toda a paisagem, ou seja, ao jardim planetário.
Esta recente acepção traz novos desafios ao emprego e tratamento da vegetação no interior do jardim. A minimização dos cuidados de manutenção e do recurso a herbicidas e a químicos prejudiciais ao ambiente, a preservação e enriquecimento do solo, o uso racional e equilibrado da água, as relações de simbiose com a fauna (insectos, pássaros, toupeiras, borboletas, etc.) (figuras D11), a reprodução e perpectuação das espécies e, de um modo geral, a sustentabilidade do sistema, são alguns dos aspectos que hoje presidem, em muitos casos, à selecção e aplicação de vegetação ao jardim, e que se têm vindo a tentar alcançar quer por meio da utilização de plantas espontâneas, quer pela aplicação de modelos de plantação e de concepção do jardim inteiramente novos (como se verifica nas propostas de Jens Jensen e de Gilles Clément, pela sua importância e singularidade, objecto neste capítulo de uma análise mais aprofundada).
Sem comentários:
Enviar um comentário