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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Raras vezes se vê surgir na história um espirito iluminado capaz de transpôr as fronteiras do seu próprio tempo, tal como o de Jens Jensen (1860-1950). Para ele, a essência do jardim residia na sua mensagem. Por isso, desde muito cedo, dedicou toda a eloquência das suas palavras, todo o génio e força do seu espírito, toda a sua sensibilidade para com as plantas, à transmissão de uma mensagem: a da beleza e das virtudes da natureza e das paisagens (figura D12).

Nascido na Dinamarca, Jensen emigra para os Estados Unidos da América em 1884, estabelecendo-se pouco depois em Chicago. Ao longo do século XIX, a cidade havia conhecido um intenso desenvolvimento. Arranha-céus, caminhos-de-ferro, estradas e um novo sistema de drenagem, indicavam que Chicago se estava a transformar numa grande cidade, uma das mais importantes da nação (BACHRACH (a), 2001). Todavia, a par destes extraordinários progressos, assistia-se a um rápido desaparecimento da flora espontânea e das paisagens naturais, tanto em torno de Chicago como de outras cidades da região do Midwest. Apercebendo-se deste perigo, e do valor e da singularidade destas paisagens, Jensen dedicou-se de forma apaixonada à sua salvaguarda, assumindo a liderança de um movimento de conservação pioneiro – the Midwestern Conservation Movement -, ao qual se associa um novo estilo de concepção do jardim – the Prarie Style (estilo de pradaria) (12).

A intenção deste novo estilo, praticado por Jensen e pelos seus contemporâneos Ossian Cole Simonds e Alfred Caldwell, era a de despertar um novo sentimento de apreço pela natureza e incentivar a sua protecção, trazendo para o jardim marcas das características regionais naturais da paisagem e da sua maior originalidade – a pradaria – para que, nas palavras de Jensen, este “mar de flores de todas as cores do arco-iris” (13) pudesse ser estudado e amado pelas gerações futuras. Não se tratava, de facto, apenas de incorporar no jardim a flora espontânea característica da pradaria, mas de evocar todo seu “espírito” tanto espacial como estruturalmente (GRESE, 2001), o que se traduzia num tratamento inovador e extremamente rico da vegetação.

Cusiosamente, a carreira brilhante de Jensen começa com o insucesso do seu primeiro jardim. Tratava-se de um jardim formal de espécies exóticas que Jensen havia criado pouco depois deste ter sido promovido a encarregado da West Park Commission (14). A desadequação das plantas ao local fez com que o jardim não prosperasse e com que o interesse de Jensen se voltasse definitivamente para a flora nativa. Levando uma equipa consigo, Jensen foi para o campo onde recolheu diversas espécies indígenas de flor, muitas das quais consideradas à época daninhas, que depois transplantou para um pequeno canto do Union Park, dando origem ao American Garden. A criação de um jardim de plantas espontâneas era, por esta altura (em 1888), uma ideia bastante inovadora, mas o Jardim Americano depressa se tornou muito popular (BACHRACH (a), 2001).

Desde então, Jensen fez inúmeras excursões ao interior inexplorado do território Americano, onde estudou aprofundadamente e fotografou a flora espontânea e as paisagens naturais, tornadas objecto de uma verdadeira paixão.

A corrupção e desonestidade política em que se encontrava envolvida a West Park Commission levou Jensen, em 1900, a ser demitido do seu cargo (15). Seguiu-se um período de intenso envolvimento em organizações dedicadas à melhoria das condições de vida na cidade de Chicago e à conservação de áreas naturais. Neste âmbito, as suas propostas revelavam já o carácter absolutamente visionário das suas ideias (16). Jensen sabia, no entanto, que os seus ideais apenas poderiam ser levados à prática através de uma sensibilização geral da opinião. Para que fosse compreendido era necessário criar uma imagem, fazer ver. E que melhor forma tinha ele para fazer ver, que não fosse a imagem do jardim? (figura D13)

(12) O termo “prairie style” ou “prairie spirit” surge pela primeira vez na obra de Wilhelm Miller, The Prairie Spirit in Landscape Gardening (1915) (GRESE, 2001).
(13) Cf. Jens Jensen in Bachrach (a), Julia Sniderman, “Jens Jensen, Friend of the Native Landscape”,
http://chicagowildernessmag.org/issues/spring2001/jensjensen.html , 2001.
(14) Parte do sistema de parques públicos da cidade de Chicago.
(15) Desde 1895, Jensen havia já sido apontado para superintendente do Humboldt Park.
(16) Membro de várias organizações associadas à conservação e à ciência, Jensen foi neste período apontado para a Special Park Commission, no âmbito da qual, juntamente com o seu colega Dwight Perkins (arquitecto da Prairie School) se dedicou ao estudo dos espaços abertos de Chicago. Estudo de que viria a resultar uma proposta de criação de todo um novos sistema de espaços verdes para a cidade, conceito à época extremamente vanguardista.

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