quarta-feira, 31 de março de 2010

Ao inscrever-se na corrente biológica que anima a natureza (figura D34), o jardim em movimento torna-se extremamente económico de um ponto de vista energético, já que é poupada a energia que haveria de ser gasta ao contraria-la, a par de custos energéticos de manutenção pouco elevados. Para além disto, ele é palco de constantes acréscimos de biomassa, representativos se considerados numa perspectiva ecológica global. O jardim em movimento constitui, por isso, um modelo, ou prótotipo, com potencialidades extensíveis a toda a paisagem, extensíveis ao jardim planetário. Trata-se, no entanto, ainda de um modelo experimental.

No jardim em movimento do Parque André-Citroën, em Paris, aberto ao público em 1993, a dimensão experimental deste jardim torna-se particularmente interessante. Tanto por situar no interior de uma grande cidade, sujeitando-se a uma utilização muito intensa, como por se desconhecem as reacções por parte do público face a um espaço desta natureza, mas, sobretudo, por aqui se levantarem problemas concretos quanto à sua instalação e manutenção. Trata-se, pois, de levar à prática um modelo de jardim que ainda raras vezes se ausentou da utopia.

No local onde foi criado o jardim em movimento do Parque André-Citroen não existia nenhum terreno abandonado em estádio de prairie armée. E como era inviável esperar que a natureza o alcançasse por si, foi necessário iniciar o jardim do princípio, isto é, recriar o estádio desejado da sucessão fitossociológica. Para tal foram instaladas no terreno espécies de lenhosas muito dispersas (como a Parrotia, o Ilex e o Euonymus), manchas alongadas de bambus, algumas espécies de espinhosas (como arbustos e trepadeiras do género Rosa) e três misturas de sementes de herbáceas, todas semeadas em simultâneo.

As espécies lenhosas e espinhosas, e os bambus, “destinados a criar planos de organização legíveis em qualquer estação” (47), formam o essencial da estrutura fixa do jardim, uma estrutura ainda assim muito fluída “com excepção dos azevinhos, destinados a serem talhados em bolas baixas de aparência fixa, afim de melhor fazer aparecer o movimento das herbáceas ao redor” (48).

Quanto às herbáceas, a selecção das diferentes misturas de sementes foi cuidadosamente estudada em função da existência de zonas do terreno com diferentes condições edáficas e diferentes graus de pisoteio. Assim, para as zonas de depressão foram eleitas espécies adaptáveis a habitats mais húmidos, ao passo que, para as zonas mais elevadas e planas, foram escolhidas espécies adaptáveis a habitats mais secos. Do mesmo modo, à mistura destinada a zonas mais secas, mas onde se previu um pisoteio mais intenso, foi adicionada uma percentagem de gramíneas (de 50%), que torna a composição mais resistente a este tipo de condições. Condições que levaram mesmo a que fosse considerada também um mistura composta unicamente por gramíneas, capaz de ocupar as zonas onde o pisoteio é permanente (CLÉMENT, 2001) (figuras D35).

(47) Cf. Clément, Gilles, Le jardin en mouvement, de la Vallée au jardin planétaire, Sens & Tonka, Paris, 2001, p. 166.
(48) Cf. Clément, Gilles, Ibidem, p.166.

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