quarta-feira, 31 de março de 2010

Nas sociedades desenvolvidas dificilmente se aceita que a natureza recupere aquilo que já lhe havia sido conquistado. E por muitas simpatias que desperte a “causa natural”, as manifestações naturais da natureza, observadas na reconquista de terrenos abandonados pelo homem, são entendidas em geral como uma degradação e recebidas com um sentimento de inaceitável perda de poder e de supremacia sobre a sua força. Por isso, diz Gilles Clément, “nos países menos desenvolvidos o último edifício é motivo de orgulho, em países desenvolvidos a existência de baldios, uma vergonha” (39). Tudo isto é reflexo de uma concepção da natureza por oposição à ideia de civilização. Parecemos não estar preparados (ou dispostos) para acolher a natureza tal como ela de facto é, na sua ordem biológica (figuras D25—D29), mas apenas quando submetida à arquitectura. Esta é, segundo Gilles Clément (2001), a razão para a extrema formalização dos modos de concepção do jardim.

(39) Cf. Clément, Gilles, Le jardin en mouvement, de la Vallée au jardin planétaire, Sens & Tonka, Paris, 2001, p.9.

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