quarta-feira, 31 de março de 2010

Há cerca de cem anos atrás, Jens Jensen encontrava-se entre os primeiros, e mais importantes paisagistas, a inaugurar uma nova era de concepção ecológica da vegetação e do significado do jardim. Tratava-se, à época, de uma verdadeira revolução de ideais e, mesmo hoje, o seu trabalho conserva uma grande actualidade. No final do século XX, Gilles Clement traz de novo para o jardim uma perspectiva revolucionária face às plantas e à concepção da natureza.

A essência do seu jardim em movimento é a energia. Do átomo ao universo, sem energia, não há movimento. As plantas recebem energia do sol e convertem-na em movimento, crescendo, multiplicando-se, disseminando-se. Elas são a base de uma cadeia complexa de movimentos, de transformações, de metamorfoses. Na natureza nada se perde tudo se transforma (30). Essa é a sua grande força e encanto, a essência da vida perpetuando-se nas transferências contínuas de energia entre átomos, moléculas e corpos (a morte é apenas o recomeço da vida).

Gilles Clément propõe um olhar renovado sobre esta imensa força que anima a natureza. Que ao contrário de ser constantemente contrariada, ela possa fluir juntamente com o jardim. A ordem do jardim em movimento é, pois, uma ordem dinâmica, em que se aceita a transformação, o movimento. Uma ordem oposta à ordem estática até aqui idealizada para o jardim, onde se investem todos os esforços para perpetuar a ordem inicialmente estabelecida. Nos jardins de ordem estática também existe necessariamente movimento – sem ele não há vida –, as plantas crescem, nalguns casos é-lhes permitido que se multipliquem (em geral de forma controlada) e transformam-se no decurso das estações, mas apenas são aceites os movimentos previstos, aqueles que se coordenam com o desenho predeterminado do jardim. No jardim em movimento pretende-se justamente o oposto: promover o movimento imprevisto. Num jardim de ordem estática uma planta fora do sítio cria desordem. Num jardim de ordem dinâmica o que cria desordem é a interrupção da evolução de uma nova ordem (como seja eliminar a planta) (CLÉMENT, 2001) (figuras D23).

(30) Algo que conhecemos do Primeiro Princípio Fundamental da Termodinâmica – o principio geral de conservação da energia (PEIXOTO, 1993).

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