Nos baldios, as ervas, as mais vagabundas de todas as plantas, principiam a criação de uma nova ordem onde “a invenção é possivel, o exotismo provável” (38) (figura D24). No final do século XIX profetizava-se o fim dos baldios em consequência do crescimento das populações e da necessidade de uma maior produção de alimentos (CLÉMENT, 2001). A profecia, no entanto, não se cumpriu. Na verdade, o aumento da produção de alimentos concretizou-se por meio de uma maior eficiência agrícola, de modo que hoje a tendência é para que os baldios se multipliquem. Terrenos mais pobres ou inacessíveis, vertentes mais abruptas e de difícil mecanização, parcelas abandonadas simplesmente por não serem rentáveis ou porque aqueles que as cultivavam preferiram tentar a sua sorte na cidade, são hoje deixadas à reconquista da natureza. Mas não sem uma grande inquietação.
(32) A obra de Gilles Clément é toda ela impregnada de uma ”poesia das ervas”. O próprio termo erva (herbe) não inclui somente as plantas, mas também toda uma poética, uma ingenuidade campestre, uma memória da infância, um contacto puro e inocente com a natureza, que é parte integrante da filosofia do jardim em movimento. Por esta razão, recorremos ao termo – erva – nesta mesma acepção.
(33) Cf. Clément, Gilles, Les Libres Jardins, Éditions du Chêne, Paris, 1997, p.10.
(34) Cf. Clément, Gilles, Le jardin en mouvement, de la Vallée au jardin planétaire, Sens & Tonka, Paris, 2001, p.10.
(35) Na obra de Gilles Clément é introduzido este novo conceito de plantas vagabundas (do francês, plantes vagabondes) , um conceito que alude ao “movimento” das plantas, isto é, à sua mudança de lugar operada pela sua própria reprodução e disseminação, favorecida, muitas vezes, pelo homem, pelas máquinas, pelo vento, pelos animais, etc.. Assim, quanto mais “móveis” e mais “velozes” são as plantas, ou seja, quanto mais rápidos são os seus ciclos de vida, mais elas são vagabundas.
(36) De facto, o empenho generalizado em impedir a reconquista por parte da natureza ainda não nos deu oportunidade de conhecer as séries florísticas da nova “natureza selvagem”.
(37) O próprio Gilles Clément (2001) faz referência ao carácter único do termo friche (do francês), cujo sentido considera não ser plenamente restituído em nenhuma outra língua. Assim, embora se faça uso das traduções possíveis – terreno abandonado e baldio –, ter-se-á sempre presente o sentido original do termo– friche –, que, de acordo com o mesmo autor, alude não apenas a um terreno mas a toda uma dinâmica vegetal que lhe é própria.
(38) Cf. Clément, Gilles, Le jardin en mouvement, de la Vallée au jardin planétaire, Sens & Tonka, Paris, 2001, p.10.
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