quarta-feira, 31 de março de 2010

CONCLUSÃO

Na atitude face às plantas do jardim exprime-se uma concepção da natureza, uma visão do mundo. Onde as colocamos, se são espontâneas ou exóticas, se há preocupações ecológicas e estéticas na sua escolha e distribuição, que significados lhes são atribuídos, qual a sua poesia e qual a sua função, tudo isto são sinais de uma ideia de natureza representada no jardim. Sinais de que do nosso contacto com as plantas nasce uma história. Ao longo do século XX, uma história agitada de transformações, de novos problemas e de novas inquietações que aos poucos se vão transmitindo ao jardim impregnando as suas plantas.

Assim, com a progressiva complexificação das sociedades, também o tratamento da vegetação agrega cada vez um maior número de componentes. São as próprias dimensões do jardim – pensamento, arte, espaço, ecologia, e tempo – a desdobrar-se sucessivamente em novos desenvolvimentos, em novas variações. Um desenvolvimento fractal de complexidade infinita que transmite às “plantas de hoje” o sentido profundo de uma necessidade de união ao cosmos. Elas são natureza, arte, aprendizagem e identidade. Elas são cada vez mais a imagem de uma vontade de futuro. Um futuro de ordem, de harmonia, de equilíbrio, e de sabedoria. Um futuro em se rompem, por fim, as fronteiras que nos separam da natureza, para reentrarmos na natureza. Um futuro representado no interior do jardim.

Esta é talvez a imagem do jardim do futuro, um jardim em que se não distingue o homem da natureza. Orientação que se esboça já nas experiências e pesquisas que se desenvolveram em torno do jardim no final do século XX – homem e natureza tentando fundir-se num jardim-paisagem. É isto que encontramos em comum em obras tão distintas como, por exemplo, as de Peter Latz, Fernando Caruncho e Gilles Clément. Obras que julgamos deixam abertas algumas das portas do jardim do futuro: a fusão entre a natureza e a técnica; a reinvenção da identidade pela memória; e a inscrição do homem numa nova ordem biológica. As plantas serão certamente a chave para qualquer uma destas portas.

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