quarta-feira, 31 de março de 2010

Gilles Clément enfatiza também o papel das vivazes gigantes, plantas mais altas que um homem, destinadas aos “delírios de Verão”, que transformam o jardim numa “floresta de ervas na qual o homem-insecto penetra” (44). Elas trazem ao jardim uma dimensão de labirinto, “constituindo um dos materiais essenciais de distorção do espaço” (45).

O jardim em movimento é exclusivamente vegetal. No seu interior é o modo de vida biológico das ervas (boas e daninhas) a determinar a localização e a forma das massas floridas, e, como estas são sujeitas a uma permanente variação em função das espécies envolvidas e do tempo, a forma do jardim é continuamente transformada (CLÉMENT, 2001). Assim, tal como as plantas desaparecem e reaparecem em lugares imprevistos, também a forma do jardim é imprevista.

Para Gilles Clément o lugar ideal para criar um jardim em movimento é um terreno abandonado, de preferência em que a sucessão fitossociológica tenha já alcançado um estádio de prairie armée (o que, de acordo com Gilles Clemént (2001), demora geralmente entre sete a quatorze anos a suceder). Partindo deste estádio, corresponde a uma total cobertura vegetal do terreno, com pontuações de espécies lenhosas (arbustos nalguns casos espinhosos) e aparecimento das primeiras árvores, a criação do jardim em movimento principia com uma selecção da vegetação presente no terreno. Selecção que recairá sobre algumas espécies arbustivas, árvores, manchas de herbáceas e, eventualmente, vestígios da vegetação associada ao anterior uso do terreno, considerados de maior interesse. O restante é cortado com uma máquina (uma máquina robusta para cortar erva, “a única máquina verdadeira deste jardim” (46)).

As áreas cortadas convertem-se num prado, composto de uma multiplicidade de espécies, por onde se pode circular livremente. Mais tarde, nas zonas onde as plantas tenham terminado o seu ciclo e se apresentem com um aspecto desagradável, é utilizada de novo a máquina de corte, mantendo-se, mais uma vez, as manchas de vegetação de maior interesse que entretanto tenham surgido. Quanto às manchas de herbáceas floridas inicialmente seleccionadas, são agora poupadas em pequenas porções, ainda que murchas e secas, de forma a assegurar a continuidade da sua presença no jardim. Aplicando este método, de supressão e selecção de manchas floridas, a forma do jardim entra em permanente transformação, ao mesmo tempo que se definem novas zonas de circulação.

Deste modo, o jardim em movimento nunca está terminado, a sua manutenção é criativa. Mais ainda, no seu interior é acentuada a dinâmica da sucessão, pois quanto mais frequentes são os cortes, mais estimulados são os ciclos biológicos, o que conduz a uma maior biodiversidade e a uma mais rápida transformação do jardim. Por outro lado, as espécies lenhosas, de ciclos incomparavelmente mais longos, servindo de referência e de contraponto ao movimento, tornam-no ainda mais evidente (figuras D32-D33).

(44) Cf. Clément, Gilles, Le jardin en mouvement, de la Vallée au jardin planétaire, Sens & Tonka, Paris, 2001, p.67.
(45) Cf. Clément, Gilles, Ibidem, p.68.
(46) Cf. Clément, Gilles, Le jardin en mouvement, de la Vallée au jardin planétaire, Sens & Tonka, Paris, 2001, p.53.

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