Um jardim é um lugar de representação da natureza. Sem uma ideia renovada de natureza, não se podem conceber novos jardins. O jardim em movimento pressupõe um olhar renovado sobre a natureza, a incrição do jardim na corrente biológica de cada lugar. No seu interior é aceite a dinâmica da reconquista, do crescimento, do envelhecimento, do desmoronamento, da deslocação, da transformação. Nada há a recear no imprevisto, excepto, talvez, a interrogação: “a vida exclui a nostalgia, não há um passado por vir” (41).
Num jardim, as plantas que aparecem sem aviso transformam o registo das coisas ordinárias relançando a dinâmica da observação (CLÉMENT, 2001). O imprevisto, a novidade, transformam o olhar. Transformam-no num primeiro olhar, único, singular. Por isso Gilles Clément valoriza a décalage, o acontecimento imprevisto no espaço ou no tempo, o aparecimento imprevisto das plantas como forma de renovar a percepção do espaço em torno delas. O acontecimento pode dissipar-se, mas a memória permanece, o olhar transforma-se (figura D30). “Quanto mais a escala é enganadora, quanto mais rápido é o ritmo, maior é a decálage, mais o jardim acelera” (42).
(41) Cf. Clément, Gilles, Le jardin en mouvement, de la Vallée au jardin planétaire, Sens & Tonka, Paris, 2001, p.28.
(42) Cf. Clément, Gilles, Ibidem, p.57.
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