terça-feira, 13 de abril de 2010

2.1. A dimensão plástica da vegetação

As plantas possuem qualidades estéticas intrínsecas. A sua natureza viva, “todo o seu aperfeiçoamento de formas, de cores, de ritmos, de estruturas, faz com que elas pertençam a um outro plano, ao de seres estéticos, dos quais a existência é um mistério para o homem” (1). Acresce ao seu encanto uma diversidade sem limites para a imaginação quando se trata de, através delas, criar um jardim.

De acordo com Sven-Ingvar Andersson (1993), um jardim compõe-se de um cenário (de uma imagem) e de um palco (de uma arquitectura). O palco é um espaço. O lugar onde se actua, onde se desenvolve a acção, onde se colhem as impressões ao movermo-nos através do jardim. O cenário é, por outro lado, uma imagem estática, apreendida ao contemplar o jardim ou alguma das suas partes. No que respeita à aplicação de material vegetal, a arquitectura do jardim depende fundamentalmente da distribuição espacial da vegetação. Para a modelação cénica da sua imagem, contribuem a natureza dos volumes das plantas, as suas formas, texturas e cores. Características que, por esta razão, designaremos por qualidades plásticas da vegetação. Cenário e palco são indissociáveis, mas é sobretudo das qualidades plásticas da vegetação que depende a definição da imagem do jardim (veja-se, a título de exemplo, o caso de dois jardins monocromáticos de arquitectura semelhante: se as cores dominantes no primeiro forem os azuis e no segundo os tons laranja, a sua imagem será totalmente distinta).

A imagem do jardim encontra-se, assim, estreitamente associada às características intrínsecas das plantas, dependendo tanto da arte de seleccionar a vegetação, como da sensibilidade estética aplicada à sua conjugação. Aspectos a par dos quais não poderá ser descurada a sua natureza viva, as suas exigências ecológicas, edáficas e climáticas, assim como as transformações que ao longo do tempo e das estações do ano lhes são próprias.

Apesar da sua complexidade, o emprego da vegetação como meio de expressão plástica suscitou, ao longo do século XX, inúmeras abordagens, em muitos casos em estreita relação com as artes visuais. Aspecto em cuja análise nos deteremos, expondo alguns dos casos mais representativos do século, após uma referência genérica às qualidades plásticas da vegetação, determinantes para a definição da imagem do jardim: volume, forma, textura e cor.

(1) Cf. Adams, William Howard, Roberto Burle Marx: The Unnatural Art of the Garden. Distributed by Harry N. Abrams, Inc., New York, 1991.

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