terça-feira, 13 de abril de 2010

O jardim do século XX é, pois, uma incógnita. Talvez a incógnita que sempre acompanha o presente, ou um passado recente, e à qual só o futuro reserva respostas. Assim, não nos resta senão, por último, fazer referência à sua permanente mutação, chamando em nosso auxílio o testemunho de alguns dos seus teóricos e criadores.

“Acumular as plantas, por mais belas que sejam, não é suficiente para criar um jardim; não se conseguirá mais do que uma colecção. As plantas adquiridas, é necessário distribui-las com cuidado. Contentar-se em plantar, sem harmonizar as flores entre si, é o mesmo que para o pintor abastecer-se dos melhores materiais e dispor as cores sobre a paleta... ele no entanto não compôs um quadro” (25)
Gertrude Jekyll, Colour in the Flower Garden, 1908.

Um jardim é “um apartamento para a vida ao ar livre” (26) onde se manifesta “a mesma intenção decorativa que usamos no interior da nossa casa ao posicionar os tapetes estendidos” (27)
André Vera, Le Noveau Jardin, 1911.

“Da mesma forma que a casa não é uma gruta selvagem, o jardim não pode ser somente natureza; a natureza livre é a matéria-prima, o jardim deve ser uma obra de arte” (28)
Jean-Claude Nicolas Forestier citado por Jean Marc Bernard, La Renaissance du jardin français, 1913.

“A nova paisagem é um jardim sem limites. O novo jardim precederá a nova paisagem” (29).
Christopher Tunnard, Gardens in the Modern Landscape, 1938.

“O jardim é a porção do espaço exterior que o homem mais intensamente amoldou às suas necessidades e prazeres, e destes não é certamente o menor o de sentirmos que aqui tudo nos obedece – conforme as nossas posses é claro – e que o solo, o clima, e até as estações do ano se podem modificar para servirem as nossas conveniências” (30).
Francisco Caldeira Cabral, Conferência proferida no I.S.A.,1941.

“O jardim foi sempre o prolongamento da casa, ao ar livre, e, por isso, a sua primeira característica é ser habitável” (31).
Francisco Caldeira Cabral, Conferência proferida no I.S.A.,1941.

“Um jardim não se faz, cria-se. Trata-se, como em toda a criação artística, de trabalhar com elementos de forma e cor, ritmo e volume, cheios e vazios” (32).
Roberto Burle Marx, Jardins au Brésil, 1947.

“Um jardim é a adequação de um meio ecológico às exigências naturais da civilização” (33).
Roberto Burle Marx, Paysage, botanique et écologie, 1994.

“Se admitirmos que é próprio do jardim dar a ver e a sentir, por meio de artefactos principalmente vegetais, um espaço no qual se propõe uma visão ideal do par homem/natureza, damo-nos conta, com efeito, das dificuldades com que se defronta uma tal proposta nos dias de hoje” (34).
Jean-Pierre le Dantec, Jardins et Paysages, 1996.

“Cada pedaço de terra pode ser considerado como um pedaço da Terra, cada jardim, como fragmento de um jardim muito maior, estendendo-se aos limites do planeta” (35)
Gilles Clément, Les Libres Jardins, 1997.

“Para mim a natureza nas cidades é sinónimo de jardim” (36)
Sven-Ingvar Andersson, The Antidote to Virtual Reality, 1999.

“Ao longo de certas estradas, encontramos jardins involuntários. A natureza fê-los. Eles não têm ar de serem selvagens e, no entanto, são-no. Um indício, uma flor particular, uma cor viva, demarcam-nos da paisagem”
Gilles Clément, Le jardin en mouvement, de la Vallée au jardin planétaire, 2001.

“A paisagem, na sua complexidade biológica, diversidade de formas e escalas é hoje o ponto de chegada da ideia que traduz, na sua plenitude, o jardim como lugar último do homem” (37).
Gonçalo Ribeiro Telles, Palavra-Jardim, 2001.

(25) Cf. Gertrude Jekyll in Dantec, Jean-Pierre le, Jardins et Paysages, Larousse, 1996, p.346.
(26) Cf. André Vera in Dantec, Jean-Pierre le, Jardins et Paysages, Larousse, Paris, 1991, p.382.
(27) Cf. André Vera in Baridon, Michel, Les Jardins, Éditions Robert Laffont, Paris, 1998, p.1122.
(28) Cf. Jean-Claude Nicolas Forestier citado por Jean Marc Bernard in Baridon, Michel, Les Jardins, Éditions Robert Laffont, Paris, 1998, p.1114.
(29) Cf. Christopher Tunnard in Dantec, Jean-Pierre le, Jardins et Paysages, Larousse, Paris, 1996, p.387.
(30) Cf. Cabral, Francisco Caldeira, Fundamentos da Arquitectura Paisagista, Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa, 1993, p. 88.
(31) Cf. Cabral, Francisco, Ibidem, p. 87.
(32) Cf. Burle Marx in Dantec, Jean-Pierre le, Jardins et Paysages, Larousse, Paris, 1996, p.399.
(33) Cf. Burle Marx in Dantec, Jean-Pierre le, Jardins et Paysages, Larousse, Paris, 1996, p.401.
(34) Cf. Dantec, Jean-Pierre le, Jardins et Paysages, Larousse, Paris, 1996, p.423.
(35) Cf. Clément, Gilles, Les Libres Jardins, Éditions du Chêne, Paris, 1997, p.9.
(36 Cf. Andersson, Sven-Ingvar, “The antidote to Virtual Reality” in Between Landscape Architecture and Land Art, 1999, p.160.
(37) Cf. Gonçalo Ribeiro Telles citado por Carapinha, Aurora, “O espaço, o lugar e o tempo” in A Utopia e os Pés na Terra, Gonçalo Ribeiro Telles, Instituto Português de Museus, Évora, 2003, p.231.

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