terça-feira, 13 de abril de 2010

Todos os jardins têm em comum a representação da natureza. Esta é a essência do jardim. O que os distingue é a ideia de natureza representada. E como, por sua vez, a ideia de natureza é fruto de um tempo, de um lugar, e de um sentimento da natureza individual, o jardim é um espaço e uma ideia em permanente metamorfose. Na tradição ocidental, uma metamorfose que se opera em estreita relação com as plantas, pois se é verdade que um jardim não se faz somente de plantas, também o é que só um exotismo de ascendência nipónica nos poderá levar a fazê-lo sem elas. As plantas acompanham todos os dilemas e certezas do jardim. Elas são o seu corpo, o espírito humano a sua alma. Em nenhum outro lugar o pensamento se recria mais na sua relação com as plantas (2). Porque é também isto que as plantas são no jardim, expressão de um pensamento. Por isso entendemos necessário aludir de forma sintética neste primeiro capítulo às ideias de natureza, paisagem e jardim, ideias indissociáveis, e às condições essenciais da sua concepção e transformação, pois destas sempre resultam relações distintas com as plantas. A nossa atenção recairá em particular sobre os problemas e inquietações do século XX, porém, tanto recuaremos no tempo sempre que tal contribua para uma melhor compreensão da origem, continuidade e contextualização destes problemas, como, sempre que oportuno, atentaremos nas perspectivas futuras, já que nestas residem as inquietações do presente.

(2) Nas palavras de Caldeira Cabral, “não é por isso de admirar que as técnicas de melhoramento vegetal se tenham desenvolvido na jardinagem muitos séculos antes de passarem à prática corrente em agricultura” (Fundamentos da Arquitectura Paisagista, Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa, 1993, p.48).

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