Verdadeiro apaixonado pelas plantas, Burle Marx é um espírito sensível a quem as plantas comovem e encantam. Ele entende-as na sua multiplicidade de formas, texturas, volumes e cores, e nas suas relações mais delicadas, com a atmosfera, a luz, a água, a música e os animais.

Brasileiro natural de São Paulo, Burle Marx é seduzido pela beleza da vegetação autóctone do Brasil aos dezanove anos, curiosamente, numa visita ao Jardim Botânico de Berlim, aonde o levam os seus estudos de pintura. Desde então, um verdadeiro fascínio pelas plantas orienta a sua vocação artística para uma criação no domínio da arte dos jardins.

O seu conhecimento profundo da flora brasileira permitem-lhe orquestrar em simultâneo as diferentes qualidades plásticas da vegetação sem perder de vista o valor próprio de cada planta em cada lugar: “podemos pensar numa planta como uma nota. Tocada numa corda ela soará de uma forma particular; noutra corda o seu valor será alterado. Pode ser legato, staccato, retumbante ou suave, tocada numa tuba ou num violino. Mas é a mesma planta” (32). O desenvolvimento de harmonias sucessivas desde uma escala de pormenor, de folhas e flores, à paisagem, é uma das grandes conquistas da sua obra e a razão pela qual as suas composições possuem um carácter dinâmico intrínseco, obrigando o olhar a percorrer o jardim em diferentes dimensões e a transpor os seus limites (figura B32).

Nas composições de Burle Marx nada é deixado ao acaso. Pelo contrário, é manifesta “uma preocupação sensual com a justaposição de texturas díspares, materiais e cores que requer a mais perfeita habilidade de execução e manutenção, desafiando a natureza a rebater os argumentos do artista” (33).

(32) Cf. Burle Marx in Adams, William Howard. Roberto Burle Marx: The Unnatural Art of the Garden. Distributed by Harry N. Abrams, Inc., New York, 1991, p.10.
(33) Cf. Adams, William Howard, Roberto Burle Marx: The Unnatural Art of the Garden. Distributed by Harry N. Abrams, Inc., New York, 1991, p.22.