sábado, 10 de abril de 2010

Paul e André Vera e as plantas no jardim art déco

Trabalhando em conjunto com o seu irmão Paul Vera (1882-1957), pintor associado ao movimento cubista, André Vera (1881-1971) é quem melhor representa, na França, a procura de um ideal de jardim moderno definido essencialmente através da vegetação. Por certo melhor apelidado de designer de jardins do que de paisagista, ele vê na vegetação um material decorativo cujo uso se deve adequar ao gosto dominante da época, representado através da moda, em particular a moda feminina.

Na sua aproximação à modernidade, André Vera detém-se numa análise dos aspectos a rejeitar nos modelos paisagistas das gerações precedentes e procura orientação nas artes de vanguarda do seu tempo, em particular na pintura. Ele não é propriamente um amante das plantas nem um conhecedor profundo da vegetação, mas antes um espírito aguçado capaz de uma leitura clara das necessidades do seu próprio tempo e da sua tradução através de um modelo de jardim onde as qualidades da vegetação – volume, forma, textura e cor – são empregues como as de qualquer outro material quando sujeito a princípios de composição plástica.

Nas suas primeiras obras, André Vera tenta renovar a linguagem formal do jardim através de um tratamento das superfícies e da cor inspirado na geometrização radical do cubismo (BARIDON, 1998), evoluindo posteriormente no sentido de uma corrente paisagista que, segundo DANTEC (1996) “não possui senão traços de superfície em comum com Picasso, Braque ou Juan Gris” (26) encontrando-se antes associada ao estilo mais tarde apelidado de art déco (27).

A influência de Nouveau Jardin (1910), publicação onde André Vera expõe os princípios para a concepção de um “jardim moderno” (28), atinge o apogeu em 1925 aquando da Exposição Universal de Artes Decorativas de Paris, manifestando-se na obra de inúmeros paisagistas tanto franceses como “estrangeiros” (DANTEC, 1996).

O novo traçado proposto para o jardim encontra-se associado a todo um conjunto de modificações no que respeita ao tratamento da vegetação. As plantas devem adequar-se ao desenho preestabelecido potenciando o seu carácter formal e o seu conteúdo conceptual.

O “jardim moderno” obedece a uma lógica de superfícies planas e linhas rectas onde a cor, enquanto qualidade plástica da vegetação, desempenha um papel essencial na transmissão de emoções. André Vera considera que as cores se neutralizam mutuamente quando disseminadas, pelo que devem sempre ser utilizadas em grandes superfícies de modo a possuírem a força necessária à produção das impressões desejadas.

As cores quentes – amarelo, vermelho e laranja – são as que mais convém a este jardim onde é a alegria que importa sugerir, com uma intensidade diversa consoante a dimensão da propriedade e o próprio carácter do lugar a adornar (ANDRÉ VERA in BARIDON,1998). Em espaços pequenos, ou a que não convém uma sumptuosidade declarada, André Vera sugere uma restrição ao número de cores. Aqui, a diversidade advirá da variação do revestimento monocromático das platibandas sob o efeito de diferentes tipos de claridade, com a inexactidão da altura das diferentes flores e com as variantes naturais da mesma cor. As combinações de dois tons da mesma cor – um rodeando o outro – adequam-se também a este tipo de espaços, produzindo uma impressão de calma ou mesmo de recolhimento e reflexão se os tons forem escuros (ANDRÉ VERA in BARIDON, 1998).

A combinação de um maior número de cores reserva-a André Vera a espaços onde seja permitida, ou até necessária, a exibição da sumptuosidade e do luxo. Impõe-se, nestes casos, um conjunto de princípios para a combinação da cor que se prendem essencialmente com a conjugação de cores complementares: “duas cores complementares são exaltadas pela sua vizinhança imediata”; quando misturadas as cores complementares anulam-se mutuamente, quer a mistura seja material, quer seja óptica; e, ainda, nos casos em que não haja espaço suficiente para a justaposição de cores complementares, elas devem ser superpostas (figura B29).

(26) Cf. Dantec, Jean-Pierre le, Jardins et Paysages, Larousse, Paris, 1991, p. 376.
(27) O estilo art déco é identificado após a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas realizada em Paris em 1925 e a sua influência manifesta-se no período que decorre entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. A art déco é caracterizada por uma mistura entre tradição e vanguarda, representada na França por um retorno ao classicismo no ensino das belas-artes acompanhado de uma geometrização cubista (CARRASSAT & MARCADÉ, 2001).
(28) Assim classificado pelo próprio André Vera.

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