sábado, 10 de abril de 2010

2.2. As plantas e a arte no jardim do século XX

Por não existirem “fórmulas” aplicáveis ao jardim, ele é não é somente uma técnica, mas uma arte. Uma arte que ao longo do século XX cativa inúmeros artistas, na sua maioria com formação no domínio das artes plásticas, que, sensibilizados pelas beleza das plantas e pelas suas qualidades, vêem nelas a sua forma de expressão, dedicando-se à criação de verdadeiras “pinturas e esculturas paisagistas”, muitas vezes em estreita relação com os movimentos artísticos mais significativos do século. Para uns, as plantas substituem-se às próprias pinceladas com as quais cuidadosamente definem as suas composições. Outros, encontram-lhes as cores, texturas, formas e volumes a serem empregues no preenchimento dos desenhos previamente delineados.

Não se deve supor, no entanto, que existe nestas formas de expressão uma mera imitação das artes plásticas. A arte condensa, pela representação, a imagem de um tempo. Cada momento histórico produz as suas imagens, as suas representações, e isto é tanto verdade para a pintura, a escultura e a arquitectura como para a arte dos jardins. É certo que a duração própria do jardim não permite muitas vezes respostas tão imediatas às transformações do imaginário colectivo como as restantes artes, em particular se o tempo se precipita de forma vertiginosa como no século XX, mas isto não significa que ele não possa constituir um meio para a emergência da arte.

Nas palavras de Sven-Ingvar Andersson (1999), o mais importante para que se esteja em contacto com a arte, é estar em contacto com a vida. “Se os criadores de jardins encontram o seu caminho para a arte através de outra forma de arte, algo é perdido” (10). Sven-Ingvar Andersson (1999) não rejeita, evidentemente, a influência das outras artes, em particular das artes visuais, sobre a arte dos jardins, considera, porém, que o mais importante é o seu contributo para o desenvolvimento de uma maior sensibilidade “no diálogo com a vida”.

A pintura é, no geral, a primeira das artes a anunciar a mudança dos tempos (transformações sociais, políticas, económicas, culturais, tecnológicas, etc), e por isso tem servido de inspiração a um grande número de criadores de jardins. Mas, para além disto, existem semelhanças entre a pintura e a arte dos jardins, no que respeita às suas formas de representação, que muitas vezes resultam em relações de proximidade e convergência: pinturas de jardins; jardins que reproduzem pinturas; pintores que criam jardins... Esta é, talvez, uma das razões que leva a arte dos jardins a seduzir tantos criadores com formação no domínio da pintura, para além, claro, da beleza e da diversidade das plantas.

(10) Cf. Andersson, Sven-Ingvar, “The antidote to Virtual Reality” in Between Landscape Architecture and Land Art, 1999, p.162.

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