quinta-feira, 8 de abril de 2010

4.1. Vegetação espontânea e ornamental

A atitude perante o tipo de vegetação a empregar no jardim, se espontânea, se exótica (1), tem vindo a oscilar muitas vezes entre motivações e sentimentos variados, por vezes contraditórios. O fascínio pelo desconhecido e pela extravagância do exótico, a atribuição de valor motivada pela ideia do raro, o encanto por vezes suscitado pela beleza intrínseca das plantas, as possibilidades oferecidas por um espectro vasto de espécies, e, mesmo, as condicionantes de mercado, são os argumentos que mais frequentemente fizeram pender a escolha dos criadores de jardins para o emprego de vegetação exótica (ou ornamental).

No decurso do século XX, o aparecimento de um conjunto de novos sentimentos perante a paisagem e o desenvolvimento da ecologia têm, progressivamente, orientado a decisão a respeito da vegetação a utilizar no jardim em sentido oposto. A exaltação da identidade da paisagem (e de um país) foi um dos argumentos apontados por alguns criadores de jardins do século XX (2) para a sua preferência pela utilização de vegetação espontânea. Motivações mais fortes provêm, todavia, de uma nova consciência ecológica, que comporta não apenas a preservação da identidade da paisagem, mas a salvaguarda dos equilíbrios ecológicos que lhe são subjacentes, a gestão equilibrada de recursos vitais, como o solo ou a água, a protecção de espécies em perigo, etc.

Na segunda metade do século XX, em particular, a utilização de vegetação espontânea reflecte a atribuição ao jardim de um conjunto de novos significados. Ele converte-se num espaço de equilíbrio (opondo-se ao caos gerado pelo processo de megapolização), num espaço de conservação (podendo constituir o último reduto para algumas espécies espontâneas em risco), num espaço de aprendizagem (permitindo o contacto com a vegetação característica de cada região), e num espaço de pesquisa (onde se tentam desenvolver novas soluções para os problemas sociais e ambientais da sociedade contemporânea) (figura D2).

(1) Os termos vegetação exótica e vegetação ornamental, tomados geralmente como sinónimos, são utilizados para designar a vegetação proveniente de regiões distintas da originária, opondo-se à designação de vegetação espontânea (vegetação característica de uma determinada região). Apesar de correntemente empregues nesta acepção, estes termos (vegetação exótica e vegetação ornamental) são tanto ambíguos como imprecisos. Nalguns casos, com o emprego do termo vegetação exótica, pretende-se antes aludir a certo tipo de vegetação de formas consideradas extravagantes (ora, neste sentido, também a vegetação espontânea pode ser exótica). Por outro lado, nada obsta a que a vegetação espontânea possa também ser considerada ornamental, já que, ornamental, no sentido literal do termo, se refere a tudo o que adorna, que ornamenta, quer dizer, que é valorizado pelas suas qualidades estéticas. Apesar disto, estes termos serão empregues na sua acepção corrente, sendo assinalados os casos em que lhes seja atribuído um significado distinto.
(2) Veja-se, como exemplo, o caso de André Vera, que defende o emprego de vegetação espontânea como forma de exaltação nacionalista.

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