No decurso do século XX, o aparecimento de um conjunto de novos sentimentos perante a paisagem e o desenvolvimento da ecologia têm, progressivamente, orientado a decisão a respeito da vegetação a utilizar no jardim em sentido oposto. A exaltação da identidade da paisagem (e de um país) foi um dos argumentos apontados por alguns criadores de jardins do século XX (2) para a sua preferência pela utilização de vegetação espontânea. Motivações mais fortes provêm, todavia, de uma nova consciência ecológica, que comporta não apenas a preservação da identidade da paisagem, mas a salvaguarda dos equilíbrios ecológicos que lhe são subjacentes, a gestão equilibrada de recursos vitais, como o solo ou a água, a protecção de espécies em perigo, etc.
Na segunda metade do século XX, em particular, a utilização de vegetação espontânea reflecte a atribuição ao jardim de um conjunto de novos significados. Ele converte-se num espaço de equilíbrio (opondo-se ao caos gerado pelo processo de megapolização), num espaço de conservação (podendo constituir o último reduto para algumas espécies espontâneas em risco), num espaço de aprendizagem (permitindo o contacto com a vegetação característica de cada região), e num espaço de pesquisa (onde se tentam desenvolver novas soluções para os problemas sociais e ambientais da sociedade contemporânea) (figura D2).
(1) Os termos vegetação exótica e vegetação ornamental, tomados geralmente como sinónimos, são utilizados para designar a vegetação proveniente de regiões distintas da originária, opondo-se à designação de vegetação espontânea (vegetação característica de uma determinada região). Apesar de correntemente empregues nesta acepção, estes termos (vegetação exótica e vegetação ornamental) são tanto ambíguos como imprecisos. Nalguns casos, com o emprego do termo vegetação exótica, pretende-se antes aludir a certo tipo de vegetação de formas consideradas extravagantes (ora, neste sentido, também a vegetação espontânea pode ser exótica). Por outro lado, nada obsta a que a vegetação espontânea possa também ser considerada ornamental, já que, ornamental, no sentido literal do termo, se refere a tudo o que adorna, que ornamenta, quer dizer, que é valorizado pelas suas qualidades estéticas. Apesar disto, estes termos serão empregues na sua acepção corrente, sendo assinalados os casos em que lhes seja atribuído um significado distinto.
(2) Veja-se, como exemplo, o caso de André Vera, que defende o emprego de vegetação espontânea como forma de exaltação nacionalista.
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