Pela sua singularidade, retomamos aqui a obra de Burle Marx, já mencionada, para nos determos um pouco sobre alguns dos aspectos que caracterizam a sua abordagem à distribuição espacial da vegetação.
Nos seus jardins, o problema da distribuição da vegetação no espaço dificilmente pode ser enquadrado numa das duas vertentes – formal ou informal – tal como até aqui podiam ser entendidas. A precisão das suas linhas e artificialidade do desenho aproximam-no de uma expressão formal, mas o espírito de desenhar através das qualidades e necessidades das plantas é, por outro lado, de ascendência informal. O traçado de Burle Marx, determinado pela arte e pelas plantas, aproximam-no tanto da arquitectura como da natureza, trata-se, na realidade, de um estilo inteiramente novo – o estilo burle Marx (figura C33).
A forma de distribuição espacial da vegetação que melhor caracteriza o estilo de Burle Marx é a justaposição de grandes manchas de contornos sinuosos e precisos. Nos seus projectos das décadas de quarenta e cinquenta as suas manchas são conformadas por linhas de ondulação ritmada de inspiração abstracta, que, ao nível do plano, definem o traçado do desenho. A partir da década de cinquenta, Burle Marx começa a explorar um sistema de composição mais geométrico, de carácter mais rectilíneo (ADAMS, 1991), porém, a sua linguagem de grandes manchas de vegetação de diferentes cores, texturas e volumes, é a que melhor o caracteriza.
A estrutura das composições de Burle Marx, resulta, em muitos casos, da conjunção de dois planos distintos, ainda que de concepção simultânea: o primeiro, bidimensional, com uma forte ligação à pintura, onde são definidos os contornos das manchas, destinadas frequentemente a um revestimento vegetal; o segundo, tridimensional, associado à escultura, definido directamente através dos volumes da vegetação. A fusão destes planos resulta num todo harmonioso que supera em complexidade a soma das suas partes. A justaposição das manchas e a escolha de volumes de Burle Marx obedece a uma linguagem vegetal multifacetada que confere às suas composições propriedades únicas. Por esta razão “as relações de dimensões e de formas, de cores e de «matérias» devem ser observadas rigorosamente para obter os contrastes ou as harmonias desejadas” (43).
Nas suas “associações artificiais expressivas”, as plantas estabelecem entre si relações de “quase necessidade” em que são respeitadas tanto exigências de compatibilidade estética como ecológica (BURLE MARX in DANTEC, 1996). Assim, no interior de uma composição, o valor próprio de cada planta é transformado em função das harmonias e contrastes estabelecidos, e por isso “existem plantas cujas características essenciais não se revelam senão quando dispostas em grandes manchas; enquanto outras exigem ser vistas sós” (44).
Na disposição da vegetação de Burle Marx, em grandes manchas de contornos precisos, manifesta-se uma grande necessidade de nitidez na definição do espaço. O carácter límpido das suas linhas e a sua ondulação musical, aliados a um extraordinário sentido da forma, do volume, da textura e da cor, são os responsáveis pela indução a uma percepção dinâmica, a um movimento oscilante do olhar entre o particular e o geral (ADAMS, 1991) (figuras C34).
(43) Cf. Burle Marx in Dantec, Jean-Pierre le, Jardins et Paysages, Larousse, Paris, 1996, p.400.
(44) Cf. Burle Marx in Dantec, Jean-Pierre le, Ibidem, p.400.
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