Cada jardim é delimitado por uma sebe talhada, em faia-branca (Carpinus sp.) ou espinheiro-branco (Crataegus sp.), que confere ao espaço privacidade, permitindo que cada jardineiro o cultive acordo com os seus desejos: flores, vegetais, ou uma combinação de ambos (http://www.caup.washington.edu/courses/LARC353/Modeur/noerum.html). No seu interior, uma pequena estrutura construída serve de apoio aos trabalhos de jardinagem, podendo ser utilizada para armazenar ferramentas ou servir como aposento de estadia.
Nesta estrutura singular, os jardins de forma oval, uma das formas favoritas de Sorensen, dispõem-se como células sobre o terreno suavemente ondulado, em harmonia perfeita com a topografia. O espaço intersticial entre os jardins, revestido a relva, serve como espaço de circulação, ao mesmo tempo que, pelas particularidades da estrutura, se torna significante em si mesmo: “movemo-nos de forma muito elegante por entre as fronteiras ovais das parcelas” (40) refere Sven-Ingvar Andersson, discípulo de Sorensen, a respeito deste projecto, “pode quase ser descrito como coreografia” (41). A conjugação de espaço estático e dinâmico, entendida por Sven-Ingvar Andersson como tradução das “sequências típicas do movimento humano” (42) é, sem dúvida, uma das características essenciais desta intervenção de Sorensen.
A simplicidade formal, tão apreciada por Sorensen, é aqui acompanhada de uma subtileza impar no aproveitamento das qualidades da vegetação. São apenas linhas, volumes, formas, traços, apenas... mas, de uma gentileza para com a condições naturais, de uma sabedoria na modelação da forma, de uma compreensão da dinâmica do espaço e de uma qualidade estética e social, verdadeiramente desconcertantes (figura C32).
(38) Na Dinamarca, a tradição dos “jardins em lotes” (allotment garden), construídos em espaço comunitário, encontra-se profundamente enraizada (o sua origem ascende ao século XVIII) e tem vindo a ser amplamente desenvolvida e difundida (http://www.cityfarmer.org/denmark.html#danish).
(39) Arquitecto paisagista dinamarquês, professor da Academia Real de Artes de Copenhaga de 1940 a 1961, Carl Theodor Sorensen (1893 - 1979) foi o líder precoce do modernismo na arquitectura paisagista. A clareza formal e força espacial dos seus projectos é, ainda hoje, comparável favoravelmente aos trabalhos de Earth Art (WEILACHER,1999). Apesar da força dos seus ideais face à arquitectura paisagista, e da qualidade da sua tradução numa prolífera obra prática (cerca de dois mil trabalhos construídos, de entre os quais se salientam o Recreio da Aventura (1941), os “Jardins Célula” de Naerun (1948), em Copenhaga, e os Jardins Musicais (1956), em Herning), a obra de Sorensen foi, até há bem pouco, praticamente desconhecida para além das fronteiras da Dinamarca (http://www.public.iastate.edu/~fridolph/images/p2exabs.pdf).
(40) Cf. Andersson, Sven-Ingvar, “The antidote to Virtual Reality” in Between Landscape Architecture and Land Art, 1999, p.166.
(41) Cf. Andersson, Sven-Ingvar, Ibidem, p.166.
(42) Cf. Andersson, Sven-Ingvar, Ibidem, p.166.
Sem comentários:
Enviar um comentário